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domingo, 3 de junho de 2012

Prevenção e Proteção contra Incêndios


Todos os anos, os incêndios provocam avultados prejuízos materiais nas empresas e diversas vítimas, quer por queimaduras ou ferimentos, mas principalmente por intoxicação.
No entanto, a maior parte dos danos, mesmo não sendo pessoais, prejudica bastante os trabalhadores que se vêm muitas vezes privados do seu trabalho habitual, durante períodos de tempo consideráveis. Deste modo, torna-se imprescindível assegurar medidas que impeçam a deflagração de fogos e, quando isto se verifica, a sua propagação. Essas medidas passam por providenciar todos os meios humanos e materiais capazes de controlar rapidamente um incêndio.
Segundo os dados estatísticos disponíveis atualmente, as causas mais frequentes dos incêndios nos locais de trabalho são defeitos ou má conservação e utilização das instalações elétricas, a utilização de chamas nuas e superfícies quentes, o deficiente acondicionamento de matérias inflamáveis, e os aparelhos de aquecimento.
O conhecimento das principais causas de incêndios em estabelecimentos e dos fenómenos associados à sua propagação, é de extrema importância para a sua prevenção e controlo. Contudo, o elemento mais importante e decisivo para a garantia das condições de segurança contra incêndios centra-se na formação de quadros e responsáveis técnicos das empresas, através das medidas de autoproteção referidas na última publicação, informando e treinando, através de simulacros, todos os trabalhadores.

Química do Incêndio

Antes de explicar os meios de deteção e combate a incêndio existentes, é fundamental explicar as reações químicas que originam um incêndio.
Este é classificado como uma reação de combustão redox, fortemente exotérmica, e desenvolve-se habitualmente de uma forma descontrolada. Um incêndio, para além de emitir calor, emite chamas e/ou fumo e gases da combustão.
Existem três fatores indispensáveis para a eclosão de um incêndio (triângulo do fogo), sendo eles:
·         um Combustível – substância redutora, que irá arder;
·    um Comburente – habitualmente o oxigénio, que alimenta a reação ( o ar contém cerca de 21% de oxigénio);
·  Energia de ativação – a energia mínima necessária para iniciar a reação de combustão, fornecida pela fonte de inflamação.

As técnicas de extinção do fogo baseiam-se no conhecimento das reações entre estes três fatores e as características de cada um, consistindo na eliminação de um deles, através de uma das seguintes técnicas:
  • Afastando o combustível do alcance do fogo ou dividindo-o em focos de incêndio mais pequenos e de fácil extinção;
  • Suprindo ou limitando o oxigénio, restringindo o fogo a um espaço, impedindo a entrada de oxigénio – asfixia -, ou cobrindo os focos com substâncias incombustíveis que impeçam o contato com o oxigénio, nomeadamente areia, espuma – abafamento;
  • Limitando a temperatura do fogo, lançando água ou outras substâncias que baixem a temperatura do mesmo.


Classes de Fogos

Segundo a Norma Portuguesa EN 2:1993 os fogos são classificados segundo o tipo de combustível, de modo a permitir identificar de forma célere o agente extintor a aplicar. No quadro abaixo apresentasse a referida classificação:
Quadro I - Classes dos fogos (Fonte: http://www.explicatorium.com/CFQ7-Tipos-de-fogos.php)

De acordo com o quadro anterior, podemos ver que existem vários tipos de combustíveis, com diferentes caraterísticas, comportando diferentes riscos de inflamação, nomeadamente:

Combustíveis sólidos correntes
Substâncias que se encontram habitualmente nas empresas, quer como matérias-primas, produtos intermédios ou acabados, ou como parte das construções, tais como madeira, papel, têxteis. Geralmente, estas não se inflamam a não ser que sejam submetidas a uma chama ou a uma fonte de calor durante um período de tempo suficiente para provocar a emissão de vapores inflamáveis. Isto é, os combustíveis sólidos não apresentam risco de inflamação espontânea. No entanto, isto pode acontecer na sequência de uma contaminação por uma substância que se oxida rapidamente em contato com o ar, como um óleo gordo, seguida de uma elevação de temperatura.
Contudo, as poeiras de madeira são muitíssimo perigosas, apresentando praticamente os mesmos riscos de inflamação que os vapores de líquidos inflamáveis, mesmo com um diâmetro inferior a 0,3 mm, apesar da velocidade de propagação da chama ser mais baixa.

Combustíveis Líquidos
De acordo com o Decreto-Lei nº98/2010 de 11 de Agosto, os combustíveis líquidos podem ser classificados em:
Extremamente inflamáveis – Substâncias e preparações líquidas cujo ponto de inflamação seja inferior a 0ºC e cuja temperatura de ebulição (no caso de um intervalo, a temperatura de inicio de ebulição) não exceda 35ºC;
Facilmente inflamáveis – Substâncias e preparações líquidas cujo ponto de inflamação seja inferior a 21ºC, mas que não sejam extremamente inflamáveis;
Inflamáveis – Substâncias e preparações líquidas cujo ponto de inflamação seja igual ou superior a 21ºC e inferior a 55ºC.

Gases
Habitualmente, os gases classificam-se em inflamáveis e não inflamáveis. Entre estes, existem também os gases comburentes, apresentando riscos no que respeita a incêndios, e os gases não inflamáveis que se denominam inertes, podendo ser utilizados para extinguir incêndios.
Gases inflamáveis – Substâncias que, no estado gasoso, à temperatura ambiente e à pressão atmosférica normal, sofrem combustão e mesmo certos gases não inflamáveis nas condições ordinárias sofrem combustão no oxigénio., como por exemplo o hidrogénio, o acetileno e o monóxido de carbono.
Gases não inflamáveis (mas comburentes)É exemplo deste tipo de gases o oxigénio puro ou misturado com outros gases no ar. Estes podem provocar a inflamação espontânea de óleos e gorduras em presença do oxigénio, a inflamação espontânea do magnésio no hemióxido de azoto, a combustão de caráter explosivo do mercúrio em contato com o peróxido de cloro e a do potássio no cloro. Os gases inertes como o azoto, o dióxido de carbono e o de azoto, são utilizados para obter a extinção de um incêndio.

Deteção, alarme e alerta de incêndio

A deteção precoce de um incêndio é fundamental para a limitação da propagação do fogo e dos possíveis danos por este causados. Para tal, é necessária a organização de defesa contra incêndios, através de:
  • Meios de deteção e alerta de incêndio em bom estado de conservação e com manutenção periódica;
  •  Material de extinção apropriado e em boas condições de funcionamento;
  • Trabalhadores formados e informados das diferentes medidas de proteção a tomar e da utilização dos diferentes meios de extinção.


De acordo com a Portaria nº1532/2008 de 29 de Dezembro, “Os edifícios devem ser equipados com instalações que permitam detetar o incêndio e, em caso de emergência, difundir o alarme para os seus ocupantes, alertar os bombeiros e acionar sistemas e equipamentos de segurança.” (Artigo 116º). Assim, sistemas automáticos de deteção de incêndio são instalações obrigatórias em qualquer edifício, e podem ser de vários tipos, consoante o fenómeno associado ao fogo que detetem, nomeadamente: Detetor de ionização; Detetor ótico de fumos; Detetores térmicos (termóstato e termo-velocímetro); e Detetor ótico de chamas.

Figura 1 – Detetor automático de incêndio – detetor ótico de fumos.

Estes sistemas são alimentados pela corrente elétrica proveniente da rede pública e de um acumulador, que assegurará, por um determinado período de tempo, o funcionamento do sistema em caso de ausência de abastecimento da rede.
Uma vez que os fenómenos detetados aparecem de forma sucessiva após se ter iniciado o incêndio, a deteção é feita de forma mais célere por um detetor de gases ou fumos, pelo que o mais comum é a instalação de sistemas de detetores óticos de fumos completando-os, de acordo com o tipo de instalação, com outros tipos de deteção.  
As instalações de deteção, alarme e alerta não são apenas constituídas pelos detetores de incêndio. Na sua versão mais completa, estas são constituídas por:
  •  Dispositivos de acionamento do alarme de operação manual, designados “botões de alarme”, que deverão estar localizados de modo a que nenhum ocupante das instalações tenha que percorrer uma distância superior a 30 m para o acionar, e colocados a uma distância de cerca de 1,5 m do pavimento e nas vias de circulação de emergência;


Figura 2 – Botão manual de acionamento de alarme de incêndio.

  •         Dispositivos de atuação automática, designados “detetores de incêndio”;
  •         Centrais e quadros de sinalização e comando;
  •         Sinalizadores de alarme restrito;
  •          Difusores de alarme geral;
  •          Equipamento de transmissão automática do sinal ou mensagem de alerta;
  •         Telefones para transmissão manual do alerta;
  •         Dispositivos de comando de sistemas e equipamentos de segurança;
  •        Fontes locais de energia de emergência (Artigo 117º).


Combate a Incêndio – Meios de Primeira Intervenção

Nas instalações de uma empresa, para além dos meios de deteção, alarme e alerta, são necessários meios de primeira intervenção em caso de incêndio, nomeadamente, extintores e mantas-ignífugas, dependendo do tipo de atividade praticada nas instalações.  A sua utilização permite atacar as chamas numa fase inicial e controlar o desenvolvimento do incêndio, podendo salvar vidas. No entanto, estes só são eficazes se utilizados corretamente e na presença de determinadas condições.  
Existem diversas condições a que devem obedecer os meios de primeira intervenção. Estas são apresentadas no quadro abaixo:

Quadro II – Condições exigidas legalmente para os meios de primeira intervenção.

Os extintores são habitualmente classificados consoante o seu tipo e o tipo de agente extintor que possuem, e que, como já referi no quadro, deve ser adequado ao tipo de fogo. O agente extintor pode atuar sobre o fogo de diversas formas, nomeadamente por arrefecimento, abafamento, inibição de reações químicas, ou pela combinação de alguns destes fatores.  

Tipos de Extintores

Extintores de pressão não permanente – Nestes, o agente extintor o gás propulsor estão separados e apenas o último se encontra sob pressão, no interior do extintor ou no exterior. Quando o extintor é ativado, o gás é libertado misturando-se com o agente extintor, aumentando a pressão interna e fazendo sair o mesmo.

Extintores de pressão permanente - Nestes, o agente extintor e o gás propulsor encontram-se misturados no interior do extintor, a determinada pressão, habitualmente indicada num manómetro junto ao manípulo do extintor. Quando o extintor é ativado, o agente extintor é expelido automaticamente. Actualemente, a maioria dos extintores existentes são deste tipo, pelo que se deve verificar periodicamente o manómetro neles existente, uma vez que se o ponteiro se encontrar abaixo da zona demarcada, em caso de incêndio, o agente extintor não sai e, pelo contrário, se o ponteiro se encontrar acima da referida zona, ao acionar o extintor, este pode explodir, causando ainda mais danos ao utilizador.

Tipo de Agente Extintor

Água – Agente extinto de incêndio por excelência, mas mais indicado para fogos da classe A. Esta atua na combustão por arrefecimento, sendo mais eficaz quando usada sob a forma de pulverização, uma vez que as gotas vaporizam mais facilmente que uma massa de líquido, absorvendo de forma mais rápida o calor. Contudo, quando se trata de um incêndio de maiores dimensões e se pretende obter um maior alcance da água, esta deve ser utilizada em jato.

Pó Químico ou Pó ABC – Agente extintor mais utilizados em extintores portáteis, principalmente em edifícios que apresentam riscos mais comuns e com ocupações de risco de incêndio reduzido. Este é indicado para fogos das classes A, B e C. No entanto, apresenta uma grande desvantagem que é o efeito de contaminação produzido após a sua utilização, pelo que algumas vezes escolhe-se outro tipo de agente extintor, que não apresente risco de contaminação para o material a proteger. Contudo, este é um agente bastante eficiente uma vez que não se dispersa tanto na atmosfera como os gases, permitindo atacar as chamas de forma mais eficaz.

Espuma – Agente extintor polivalente, que pode ser dividido em dois tipos, nomeadamente espumas físicas, obtidas através de um processo mecânico de mistura de um agente espumífero, ar e água; e espumas químicas, conseguidas através da reação química entre dois produtos na altura da sua utilização. Este último já é pouco utilizado devido aos riscos de armazenagem e manuseamento dos produtos químicos. A espuma física é adequada para instalações de armazenamento de combustíveis líquidos e inflamáveis.

Dióxido de Carbono (CO2) – Este agente é um gás inerte que atua sobre a combustão abafando-a, ou seja, através da substituição do oxigénio que atua como comburente, e também por arrefecimento. Após a sua utilização, este não deixa resíduos. No entanto, este pode provocar queimaduras no utilizador uma vez que sai do extintor a temperaturas de aproximadamente -70ºC, produzindo um grande choque térmico, pelo que a sua utilização não é aconselhada em alguns equipamentos que funcionam a temperaturas elevadas. Por não ser condutor de corrente elétrica, este é o agente extintor de excelência para fogos de origem elétrica, protegendo equipamentos e quadros elétricos.

Existem ainda outros agentes extintores, como Agentes Halogenados, Halon e Gases Inertes. No entanto, não vou referi-los com grande pormenor pois estes não são utilizados em extintores portáteis, e também porque alguns deles apresentam perigos para o meio ambiente e não são muito eficazes no combate a incêndio. Para além disto, durante todo o estágio não realizei nenhuma auditoria a instalações com os referidos agentes extintores instalados.
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No decorrer do meu estágio, os sistemas de deteção automática de incêndio e os meios de primeira intervenção foram uma constante nas não conformidades detetadas nas auditorias, em todos os aspetos referidos no quadro acima apresentado, quantidade de extintores, tipo de agente extintor e localização do mesmo adequado às instalações e materiais, acessibilidade aos mesmos, sinalização e, de forma menos regular, a validade dos mesmos, e na deteção, na inexistência de quaisquer sistemas de deteção, alarme e alerta. Por exemplo, a situação que mais se verifica é a inexistência de extintores de CO2 junto aos quadros elétricos, que são os mais indicados para fogos de origem elétrica, e pelo contrário, a existência de extintores de Pó ABC nestes locais, que em caso de incêndio podem potenciar ainda mais o seu desenvolvimento. Considero que estes são dos aspetos mais importantes em termos de proteção dos trabalhadores e dos mais descurados pelas entidades empregadoras. Como tal, no decorrer das auditorias, os empregadores são sempre sensibilizados para estas questões, e para a necessidade de formação dos trabalhadores em combate a incêndio.
No que concerne à colocação de detetores, os empregadores também não estão sensibilizados na maioria dos casos, para a sua importância e necessidade, e os que estão, não apresentam condições económicas para a sua aquisição, uma vez que este é um material bastante oneroso.
Quanto às mantas ignífugas, a maioria das cozinhas que auditei possuíam este meio de primeira intervenção em caso de incêndio. No entanto, na maior parte das vezes não se encontrava sinalizada e não possuía data de verificação.

Fontes:
Bombeiros Sapadores de Coimbra. Extintores Portáteis. Consultado em 3 de Junho de 2012. Disponível em http://sapadoresdecoimbra.no.sapo.pt/Extintores.htm
Ministério da Administração Interna. (2008). Decreto-Lei nº220/2008 de 12 de Novembro. Consultado em 2 de Junho de 2012. Disponível em http://dre.pt/pdf1sdip/2008/11/22000/0790307922.pdf
Ministério da Administração Interna. (2008). Portaria nº1532/2008 de 29 de Dezembro. Consultado em 2 de Junho de 2012. Disponível em http://dre.pt/pdf1sdip/2008/12/25000/0905009127.pdf
Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território. (2010). Decreto-Lei nº98/2010 de 11 de Agosto. Consultado em 3 de Junho de 2012. Disponível em http://dre.pt/pdf1sdip/2010/08/15500/0335303398.pdf
MIGUEL, A. S. (2010). Manual de Higiene e Segurança do Trabalho. Porto: Porto Editora. 11ª edição. Consultado em 2 de Junho de 2012
Normas Portuguesas e projetos de Normas anteriormente referidos
Documentos internos da empresa New Med

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